5b – Babel e Sião (excerto)
Canta o
caminhante ledo
no caminho trabalhoso,
por entre o espesso arvoredo;
e de noite o temeroso,
cantando, refreia o medo.
Canta o preso
docemente
os duros grilhões cantando;
canta o segador contente;
e o trabalhador, cantando,
o trabalho menos sente.
Como poderá
cantar
quem em choro banha o peito?
Porque, se quem trabalhar
canta por menos cansar,
eu só descansos enjeito.
Com quanto perdi,
trabalhava em vão;
se semeei grão,
grande dor colhi.
Amor nunca vi
que muito durasse,
que não magoasse.
Poesia de
Luis de Camões