2b – Canção das marés
Na próxima maré talvez não haja flores.
Nem cravos nem quiçá a papoila encarnada
tão perto do sorriso, tão dentro dos amores
desta pátria futura, tão esforçada e lutada.
Sobe a maré do povo após cada ressaca
e regeita a seu tempo nos areais perdidos
quem virou trinta e três vezes de casaca
e fingiu recuar em trinta e três sentidos.
Coragem companheiro, a maré vai subindo.
E para esta maré as represas não chegam.
A manhã vai rompendo e os braços vão abrindo
o difícil caminho do país que nos negam.
Na próxima maré já não haverá cravos,
nem tanta admiração, nem tanta ingenuidade.
Porque as flores com que se enfeitam os escravos
murcharam a seu tempo nas cordas da vontade.
Na próxima maré talvez não haja flores.
Manifestantes «a luta continua»
Poesia de
Manuel Correia