1b – Inventário
Adriano vai na memória
Dos séculos que há na canção
Que persiste em ver na História
O reverso desta ilusão.
Vai a glândula cantando o Zeca
O Sérgio está mais gordinho
O Fausto ficou careca
E eu feito num desalinho.
O GAC perdeu o pé
Tropeçou, caíu no poço
Canta o Graça um fado em ré
Diz o Branco um Padre Nosso.
Nas maminhas da Maria
Não há ninguém que não toque
Há guerra na Academia
Quando o Coiro canta o rock.
A velha diz que se mata
O Partido perdeu a linha
Só por causa do Barata
Querer cantar prá criancinha.
A canção do punho erguido
Partiu o punho, que chatice.
Matei o porco, fiz um enchido
Fiquei cheio de aldrabice.
Eu, disco d'oiro e tu, de prata
Reina a selva na canção
Há quem faça discos de caca
P'ra ver se chegam ao milhão.
Já cantaste na Patagónia
Em Badajoz e no Seixal
E como vives da Parvónia
És uma star internacional.
Quem não sabe fazer nada
Quem não lê e escreve mal
Vai prá polícia montada
Ou p'ra crítico musical.
Diz do primo, que esse é que sim
E do cozido, que é português
Vai dizendo mal de mim
E apadrinha dois ou três.
Agora, para ser artista
É preciso ir à TV
Ao concurso pluralista
Bardamerda, vá você.
Quem perde no Festival
Da canção dos vomitórios
P'ra consolo do seu mal
Meta três supositórios.
Vi um burro comer alpista
Vi voar um camaleão
Um general que é pacifista
E que não gosta do neutrão.
Vi uma bomba que é uma ofensa
E vi a outra, que é muito boa
Só não vi foi a diferença
Se uma delas cai em Lisboa.
Vou mudar de profissão
Ninguém ouve o meu recado
Isto não dá nada, não
Vou, mas é, p'ra deputado.
Porque a minha cama é fria
Não vou ficar ao relento
Espero ir dormir um dia
Nas sessões do parlamento.
Depois desta canção
É que vou ouvir das poucas
Mas aceito a condição
De Cília. o Manda Bocas.
Parece que canto mal
Ao que diz o Índio Chupista
Que até chupa o Capital
P'ra mostrar que é progressista.
Poesia de
Luís Cília