6b – Novembro
Leveda a broa
chove na estrada
que entra em Lisboa
silenciada.
Fermenta o vinho
sobre tristeza
que se reveza
neste caminho.
É novembro e no entanto
é tempo de joeirar.
A palha que vai ficando
arde e faz-nos sufocar.
E é talvez a fumarada
que te rasa os olhos de água.
A confusão, camarada;
o momento e não a mágoa.
O momento em que a nervura
se detém na velha folha,
desenhando a amargura
enquanto a raiva restolha.
Por isso digo: teus cachos
rasos de raiva e de dor.
Novembro rasando os olhos
de quem te tem tanto amor.
Não era o silêncio que avançava. Não.
O silêncio já morrera há muitos anos.
Eram os servos dos antigos tiranos,
de vingança à bandoleira e uma arma em cada mão.
Tentam à força mudar o rumo à história,
silenciando as mil bocas da verdade.
Mas nós temos o teu exemplo na memória
e a tua esperança ainda brilha na cidade.
Meu país dilacerado,
forte do teu movimento
que somos nós trabalhando
tudo o que tu tens por dentro.
A palavra derradeira
somos nós que a lançaremos.
Este mês é uma ladeira
que, em conjunto, subiremos.
Porque abril foi para nós
uma porta, uma viragem;
um momento que ganhámos.
Não o fim de uma viagem.
Ouve a voz que vem das minas,
campos, fábricas, estradas.
Suor, calor e carinho
que te estendem as mãos dadas.
Recebe a nossa mensagem
apreensiva e desperta:
A luta continua! Coragem!
A nossa vitória é certa.
Poesia de
Manuel Correia
Esta canção foi anteriormente gravada no single "novembro" Pode aqui ouvir esta versão inicial