1a – O adeus d 'um proscrito
Canção do século
XIX. 0 autor desta poesia (José Pinto Rebelo de Carvalho) emigrou para
a Inglaterra depois do malogro da revolta de 1820,e mais tarde, estabelecido o
sistema
liberal,entrou na Magistratura Judicial.
O compositor é desconhecido.
Rompe a aurora: adeus, Esposa...
Oh! cruel adeus extremo!
Sinto o compassado remo
Estas águas já cortar;
Mais não posso demorar-me
Eis a hora d'embarcar.
Lá m'espera sobre as ondas
O veloz Baixel britano:
Vamos ver se no Oceano
Doce abrigo posso achar.
Mais brandura que na terra
Lá talvez hei-de encontrar.
Vou fugir fúrias que infestam
Desgraçada Lusitânia:
Na feliz, culta Britânia
Meigo asilo encontrar:
Pai, irmãos, amigos, tudo
É forçoso abandonar.
Ah! não chores, que meu peito
Vil remorso não oprime:
Culpas não tenho; é meu crime
Um nobre, um livre pensar.
É-me glória a fatal lista
Dos proscritos aumentar.
Baixos, cruéis instrumentos
Da Ignorância e da Maldade,
A que negra atrocidade
Nós os vimos entregar!
Tão execrandos delitos
É tormento recordar.
Mas oh! dor, onde me levas?
Fugir só cumpre: é já dia...
Dos Nautas a gritaria
Vai as velas levantar.
Parto, adeus oh! Esposa oh! Pátria...
Não posso mais que chorar.
Poesia de
José Pinto Rebelo
de Carvalho
Esta faixa foi reeditada no disco "Cancioneiro" mas com melhor qualidade sonora. O excerto sonoro aqui colocado é do disco "Cancioneiro".