3a – Onde me levas
Onde me levas, rio que eu cantei,
esperança destes olhos que molhei
de pura solidão e desencanto?
Onde me levas? Que me custa tanto!
Não quero que conduzas ao silêncio
de uma noite maior e mais completa,
com anjos tristes a medir os gestos
da hora mais contrária e mais secreta.
Deixa-me na terra de sabor amargo
como o coração dos frutos bravos,
pátria minha de fundos desenganos,
mas com sonhos, com prantos e com espasmos.
Canção vai para além de quanto escrevo
e rasga esta sombra que me cerca
Há outra face na vida transbordante:
que seja nessa face que me perca.
Poesia de
Eugénio de Andrade
Esta canção foi gravada ao vivo num programa da TV portuguesa em 1980.
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