4b – O peso da sombra
A noite já devia ter caído, a pele do rio
escurecera. Vozes felizes afastavam-se
luminosas, desciam as escadas de mansinho,
enquanto as lágrimas não tardariam a rebentar
no escuro.
Eles não sabiam que o lobo conseguira
fugir e o caçador adormecera de cansaço debaixo
da grande árvore vermelha. Sem o menor
ruído a porta começara a abrir-se,
primeiro foram só uns olhos de lume, depois o animal
todo entrou no quarto.
Se tivesse de morrer seria agora, o peso da sombra
sobre o coração, empurrando-me para as águas,
cada vez mais próximas e desertas
Poesia de
Eugénio de Andrade