1a Romance do Lulu do Intendente (autobiografia em si menor)

 

 

 

 

 

Vou contar a minha história
vão ver como é comovente
e se houver algum cineasta
que aproveite urgentemente.
E depois nem é preciso
que a TV inteligente
compre lágrima enlatada
no Brasil, anualmente.


Como nasceu o meu mal
eu não sei precisamente,
era um ardor muito forte,
crescendo constantemente
Não podia controlar
esse mal tão inclemente,
esse desejo divino
de ver Budas do Oriente.


Não comia nem dormia
estava magro como um pente,
tinha aspecto de reforma
lá da Caixa previdente.
Decidi-me um belo dia
a resolver finalmente
o caso tão doloroso
que tinha minha frente.


Logo ao sair de casa
dei de caras com um agente
que era da circulação
e não da Guarda é evidente,
a Guarda estava em Estocolmo
em cerimónia resplendente
recebendo o prémio Nobel,
o da Paz, concretamente.


"Desculpe senhor polícia
por ser tão impertinente,
veja lá se me resolve
este caso tão pungente".
Não gostou da brincadeira
criou-se um mau ambiente
agarrou-se-me ao pescoço
e olhou-me severamente.


"Você está a gozar comigo,
disse-me ele ferozmente,
sou um defensor da ordem
e um antigo combatente
das campanhas d'além mar
onde cheguei a tenente,
Tenho medalhas às mil
por matar muito inocente".


Vai daí puxou da moca
bateu-me raivosamente,
ainda hoje me pergunto
como não estou impotente.
Deu-me tantas o malandro
rindo desalmadamente,
e por fim jogou a bola
c'os meus tomates, o insolente.

Fui parar ao hospital
vítima do acidente,
vi um doutor muito ocupado
catando chatos num doente.
Indaguei se me valia,
respondeu-me secamente:
"Não chateie quem trabalha
marque consulta se é urgente".


Lá fui eu muito afanoso
cumprir as ordens, fielmente.
Tive sorte, muita sorte.
só dez mil a minha frente.
Após dois dias na bicha
tive a resposta corrente,
para esperar só mais um ano,
tão pouco tempo, felizmente.


Fui ver o Bispo de Braga
pedi-lhe com ar fervente
que me desse esse milagre,
mais três hóstias de presente.
Lá entrei na catedral
com a fé que nem um crente,
ia enfim ver satisfeito
este voto pouco exigente.


Vislumbrei uma beata
ardendo impaciente
aos abraços a um cura
mas não era um curadentes,
devia ser um cura d'almas
curando valentemente,
pois notei como a velhota
dava saltos de contente.


"Cá de Budas eu não falo,
disse o Bispo papalmente,
eu só rezo pela defesa
dos valores do ocidente.
Vá com paz ó minha ovelha
vá com paz eternamente,
veja lá não se tresmalhe
e vote corretamente".


Em desespero de causa
por este azar permanente
fui lá prás bandas do Rato

consultar uma vidente.
Recebeu-me de seguida
e olhou-me tristemente,
nunca vira até então,
pessoa tão deprimente.


Consultou as suas cartas
e uma bola transparente,
deu mais três saltos mortais
e ficou incandescente.

"Aleluia, Aleluia,
disse a velha reluzente,
"eis o fim do vosso mal,
dessa vida descontente".


"Mas porquê buscar tão longe
esse prazer transcendente,
se é só para ver Budas
vá mas é, ao Intendente.
Lá encontrará a paz
que deseja, finalmente,
mas nunca sábado a noite
porque haverá muita gente".

Agora vivo feliz
que nem um adolescente,
nunca falho uma sessão
desta cura providente.
E até já fui eleito
no bairro, o melhor cliente
e sou mesmo conhecido
pelo Lulu do Intendente.


Foi a Micas e a Miló
mais a Joana Valente
que me ensinaram as rotas
do país do sol poente.
Fui ao céu. pisei a lua
vi os mares do oriente,
em todas as posições
na pensão do Intendente.


Não quero com esta canção,
criar nenhum incidente,
eu não sou nenhum reaça,
nem me tomei dissidente.
Quero apenas alertar
duma forma irreverente,
para alguns dos muitos males
que temos diariamente.

 

luis cilia

Poesia de

Luis Cilia

 

Caixa de texto: "Marginal"

 

 

 

 

 

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