4b – Variações populares
Não espero pouco da vida,
se dela não espero nada.
Por isso tudo o que tenho
me sabe a coisa emprestada.
O medo que à vida a vida
nos dá de tanto a vivermos,
faz que a morte tenha medo
do medo de não morrermos.
O tempo é medo que passa
o medo é tempo que fica,
a esperança que não espera
é pobre de um, e mais rica.
Não espero pouco nem muito,
não quero muito nem pouco,
quero só a liberdade
de ter juízo e estar louco.
Não sei se é muito ou se é pouco
o que a vida me tem dado;
é sempre mais o que eu quero
para não par'cer tirado.
Não espero pouco da vida
pois dela não espero nada.
Por isso tanto desejo,
sem que a tenha contentada.
Tudo o que a vida me dá
tenho medo de perder:
e, mesmo quando não perco,
é como ter e não ter.
Poesia de
Jorge de Sena